terça-feira, 22 de abril de 2014

Pode o médico ser um monstro ? Infelizmente, sim.

O Brasil sentiu muita tristeza nesses últimos dias, por conta do trágico assassinato de uma criança de 11 anos: o pequeno Bernardo. Investigações em andamento, há o envolvimento confirmado de uma enfermeira, de uma assistente social e do possível coautor: o médico, pai da criança.
Disse um ganhador do premio Nobel da Medicina do ano de 1.947: “O médico é mais perigoso que uma fera, porque dela as pessoas se afastam, pelo perigo, enquanto que ao médico se entregam na maior confiança, sem saber que as escolas médicas não são capazes de separar o bom do mau médico.”
O Nobel de Medicina que disse isso foi o argentino Prof. Bernardo Houssay, de Neurofisiologia, da Faculdade de Medicina de Buenos Aires. Isso vi publicado numa edição antiga do Jornal do Conselho Federal de Medicina, que tem por missão exatamente controlar o comportamento ético profissional dos médicos brasileiros.
É uma triste realidade, constatada em 1.947, e que fatalmente tende a piorar com o evoluir dos tempos, com base na qualidade de ensino médico hoje altamente discutido. Veja a constatação do CREMESP que testou o nível de formação em prova recente, resultando em 56 % de despreparados para o exercício profissional, ao final dos 6 anos de curso.
Felizmente, os casos de monstruosidade que mais chocaram a sociedade brasileira, envolvem proporcionalmente poucos indivíduos travestidos de médicos. Alguns exemplos: um “esquartejador” da namorada, a mãe médica que matou filho e futura nora, o recente pai suspeito de matar o filho, passando a ter reaberto o processo que concluiu pelo  “suicídio” da ex exposa e mãe dessa criança.
 Por mais que haja, são poucos. Mas são médicos. Isso choca ainda mais a sociedade por serem figuras das quais se espera atitudes advindas de sagrada deposição de muita confiança.
É difícil, até ousado, tratar desse assunto, sendo um médico cirurgião que sempre pautou sua meta na luta para conseguir o máximo de bons resultados possíveis. São 41 anos de carreira em que sempre busquei defender a classe, com base na atuação dos bons, dos vocacionados, dos bem formados e dos injustiçados pela incompreensão malévola.
Pautei me a estudar o Direito, pensando em defender o tipo padrão de profissional, como uma das futuras missões, no enorme leque de atuação do advogado no chamado Direito de Saúde, que certamente será um ramo definido da advocacia. Bem claro: defender o bom, o vocacionado e, eventualmente, o injustiçado médico.
Em suma, se uma “generosa” maioria são bons profissionais, uma incômoda parcela da minoria, mesmo sem serem rotuláveis de monstros, preocupa os gestores, dirigentes e controladores do bom exercício da Medicina. Que se dirá dos tais “médicos monstros” ?
O que me passa pela cabeça, e certamente da maioria, bem enquadrada na nobre missão, é ver a justiça ser feita no âmbito criminal, mas com a suspensão imediata e perda do direito de exercer uma profissão na qual ainda muito se acredita.
Dia desses, um mestre de Direito, da cadeira de ética profissional, dizia num curso em rede nacional: às vezes sinto vergonha de ser advogado, quando deparo com notícias nacionais envolvendo advogados em situações criminosas ou de corrupção, que me fazem perguntar: será que não teria sido melhor ter feito Medicina, ao invés do Direito ?
Acho que nesses dias, a reflexão sobre esse arrependimento, do ilustre Mestre deve ter sido minorado pela mácula de um pai médico e, possivelmente, homicida do próprio filho.
Assunto árido, eu sei. Extremamente triste. Chocante pela vida ceifada e pela circunstância do ocorrido. Mas uma verdade que nos leva a uma forte reflexão e que não pode ser escondida.
Ora me vem o dever do alerta, sem alarme ou alarde, de que tais tipos podem estar permeando o nosso meio. Talvez nem tanto monstros, porém, há figuras capazes de posturas indignas da profissão, quando procuram se investir na direção de aproveitar-se da confiança dedicada ao rótulo, sem se aperceber a verdadeira atitude.
Que se desconte aqui a visão jurídica que possa estar nesse momento me influenciando. A análise, pode acreditar,  vem puramente da formação médica e da experiência acumulada ao longa da vida, levando-me  à indignação, como também a muita gente.

Fica o triste registro.

Dr. Fauze José Daher

Gastrocirurgião, Diretor Clínico da Santa Casa de Barretos

Acadêmico de Direito do UNIFEB

2 comentários:

  1. Caríssimo Dr. Fauze, parabéns pelo artigo, eis que muitos profissionais preferem o silêncio e a omissão a vir em público fazer comentários acerca de colegas que, ao contrário da grande maioria dos profissionais da saúde, maculam e deixam essa nódoa na classe. Infelizmente, profissionais e homens assim existirão em todas as carreiras profissionais, e mais do que a má formação de nossos cursos de ensino, também credito isso à falta de Deus e à maldade que toma toma conta do coração dos homens de hoje. Como sempre digo, existem duas coisas que não têm limite, a estupidez e a maldade do ser humano. Possa Deus em sua infinita bondade, acolher a alma desse pequeno anjo que pagou com a própria vida pela maldade desse monstro incumbido de zelar e cuidar por ela. E não nos esqueçamos que essa criança não teve sua voz ouvida quando clamou por ajuda das autoridades competentes e foi entregue à sua própria sorte. Oxalá possamos ter dias melhores e em homenagem ao dia dele, que São Jorge, o santo Guerreiro olhe por nós! Abraço e sucesso meu caro amigo!

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  2. CAro Mestre, Renato.
    Grato, pelas palavras.
    Sei de seu ideal e empenho como nosso Professor de Direito Civil, bem como de sua preocupação com os rumos que o cidadão de hoje toma, a despeito dos grandes progressos da Humanidade. Como todo cidadão de bem, hoje, em nosso Brasil, acuado diante da insegurança reinante, nós também nos posicionamos aflitos quanto a perspectiva aí esboçada. Porém, resta fazermos a nossa parte, que tenho certeza muita gente tem também procurado assim proceder.
    Grande abraço e, mais uma vez, obrigado !

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