Ao longo da história da Humanidade, mormente em seus
primórdios, o médico foi e é visto e respeitado como instância de apoio
essencial para qualquer cidadão. Desde os antigos Essênios, que eram tidos como
os médicos de então, com suas vestes brancas (tipo túnicas) eram os curadores
sem qualquer remuneração a ponto de
andarem descalços, quando não de sandálias, num reflexo do poder de posse
reduzido.
Ciência tão antiga, porém, muito “jovem” se se atentar para o
fato que o recurso cirúrgico de sua atividade avançou há 150 anos, deixando
para trás a cirurgia rudimentar (por conta da técnica anestésica), apesar de
rica na criação de instrumentos datados do século XVIII e XIX, sendo muitos deles
usados até hoje.
Claro que essa atribuição de jovem é porque o caminhar de uma
ciência é muito lento, podendo ser figurado como 10 anos de evolução
correspondendo a 1 hora de cada dia. Então, 150 anos é, de fato, um período
curto por essa interpretação.
O grande salto de avanço, veio com a descoberta do
antibiótico, pelo escocês Fleming, em 1923, e a moderna anestesiologia dando
oportunidade a que a primeira cirurgia cardíaca, tipo tetralogia de Fallot, somente
viesse acontecer na década de 1940, por Alfred Blalock e seu assistente Vivien
Thomas, em Baltimore. Vale a pena assistir ao filme, “Quase deuses” que conta a
história desses 2 personagens da história da cirurgia cardíaca.
Daí a nossos dias, o fantástico avanço da técnica cirúrgica,
armada com novas ferramentas e sua aplicação amplamente alargada em todos os
campos do organismo humano.
Em meio a tudo isso, o marcado e marcante respeito ao
profissional médico veio durando até o final do século passado e hoje vai se
tornando um motivo de preocupação para aqueles que a exercem com vocação,
conhecimento técnico, postura ética e responsabilidade.
É respeitado sim, o profissional médico. Apesar de se ter
consciência de que a qualidade da formação vir caindo nas últimas décadas, por
razões que valem uma crônica separada, a qual não fugiremos de publicar.
Temos falado e escrito
que pesquisa do IBOPE, em 2005, publicada na revista Carta Capital, de São
Paulo que coloca o médico como detentor de 82 % de credibilidade quando comparado
com outras 15 instituições (religiosas, classistas, governamentais, políticas,
etc.). O médico foi o mais aprovado, tendo a Igreja Católica como 2o,
(72 %) colocada. Ouvidas mais de 2.000 pessoas em todo o país.
Agora vem o lado triste da história. O incomum registro de
atitudes negativas de pessoas parentes, comadres, compadres, amigos das pessoas
assistidas que, aliás, são as que menos trabalho acarretam, além do atendimento
médico.
Como tem sido difícil fazer entender que os resultados não são
milagrosos e, nem sempre, aqueles que todos desejam. Chegam a levar a atitudes
grosseiras, rudes, atrevidas, com palpites ridículos, sem base de conhecimento
no decorrer dos tratamentos.
Aliás, falando em base de conhecimento, as pessoas se
transformam em doutores em medicina, quando abordam uma moderna ferramenta
internáutica, extremamente interessante, mas que se torna muito perigosa. É o
caso do chamado “Doutor Google”.
O cidadão consulta dados de doenças, procedimentos, condutas
médicas, cirúrgicas e instantaneamente se colocam na posição de estar
enxergando aquilo que os médicos titulares dos casos não estariam enxergando. E
interessante: quanto mais ignorante a pessoa mais “entendida” se torna ao
“examinar” esse ou aquele caso.
Ora, um médico bem formado, tecnicamente, demora 6 anos para
graduar-se e no mínimo mais 4 para adquirir o definitivo preparo para o mercado
de trabalho. Agora: o pobre cidadão que se posta entendedor (via google) chega
ao cúmulo de provocar escândalos e, às vezes verdadeiras baixarias, em
ambientes hospitalares, nos quais o centro obstétrico é dos mais visados.
Essa é uma das razões pelas quais os contratos de médicos se
tornam cada vez mais caros: porque somada à responsabilidade que os costuma
naturalmente consumir, há agora uma pressão desnecessária, ignorante e acintosa
em casos de se (até) chamar a polícia militar para forçar uma conduta
extremamente técnica, como é a de natureza médico/cirúrgica. Nenhum profissional decide sem autonomia, independência e respeito ou pelo menos disso não gosta.
Tudo se afunila num processo de, cada vez mais, ver
dificultada a oferta desse essencial serviço, que a par de estar sendo aviltado
por visões equivocadas de políticas públicas, ganha mais esse enfoque que
ameaça o respeito tradicional, milenar até, dessa profissão tão importante,
mercê de comportamentos sociais inadequados.
Temos a devida e indisfarçável consciência de que degradou
também o nível de vocação, formação, dedicação e senso humanitário do médico de
nossos dias.
Há a necessária providência do usuário/paciente escolher bem e
fugir daquele visto como “mau profissional” que existe, sim. Às vezes até com
boa formação técnica, porém, com vícios que nossas faculdades não conseguem vigiar
até a entrega do diploma. Vão desde mercadores de produtos mirabolantes até ao
abuso de indicações médico/cirúrgicas desnecessárias com o fito primordial (desses) do lucro
ilícito. E chegam a ficar famosos por conta da capacidade de envolver.
Felizmente, é uma minoria que não pode comprometer a
importância da grande maioria. Se no passado, podia o cidadão se entregar na
mais absoluta confiança, hoje é preciso estar atento. Porém, repito, é uma
minoria que merece ser marginalizada.
Concluindo, é preciso alertar para que não se tome essa
conscientização crítica (até ousada) como pretexto para que continuem ocorrer
atitudes de pacientes (e relacionados) não condizentes com a necessária
serenidade nos momentos das decisões profissionais.
É como entendemos. É uma preocupante realidade.
Dr. Fauze Jose Daher
Diretor Clínico da Santa
Casa de Barretos
Mestre em Ciências – EPM
(UNIFESP)
Acadêmico de Direito (UNIFEB)