terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Santa Casa impactada por decisões: dispensa de pessoal, fechamento de leitos, aviltamento de salários e desamparo à grande população.

         
Um ano se vai e o que não estava bom está ficando pior. Quando veio a indicação da nova gestão, que foi de surpresa (assim mesmo, bem recebidahavia um clima envolvendo presença de experiência, credibilidade e retaguarda de aporte financeiro mais fácil. Era uma esperança.
Exatamente hoje deparamos com uma situação de total insegurança quanto ao futuro da entidade, que não deixou (e não deixará) de ter sua importância social.
 Sempre pedimos um administrador tecnicamente competente para gerir um hospital policlínico, chegando a indicar gestor que viria do Hospital Israelita Albert Einstein.Justiça seja feita, o Eduardo Petrov havia concordado, à época. 
               É evidente ser indispensável que, num mundode altíssima tecnologia, deve ficar de lado o amadorismo, e ser exigido expertise coordenando uma ampla cooperação entre pessoas de variadas formações.
    No entanto, tudo vem sendo feito às avessas: administrador amador, gerentes incompetentes, discurso de amor encobrindo frieza de postura no trato direto a todos os “colaboradores”. Não há um administrador de verdade. Há um engenheiro treinado à base da curiosidade, que inclusive não tem vontade própria nem liberdade para tentar acertar.
                  Do gestor maior vêm ofensas à comunidade(hipocrisia?!), à direção da DIR, à classe médica, à classe política, aos operadores da Justiça, aos prefeitos da região. 
                  Enfim, parece que o mundo é quem está na contramão.
      Não ficam dúvidas: inevitavelmente advirão conflitos sociais, em que o paciente necessitado estará batendo às portas e não há como deixar de socorrer.
                  Com uma agravante indisfarçável: a atividade assistencial da Santa Casa abraça hoje médicos em formação de pós-graduação (Residentes) e de graduação (alunos da faculdade de medicina). Como não enxergar que tal perfil de gestão está se tornando um mau exemplo pedagógico ou educativo para futuros profissionais?
                  Como Diretor Clínico me cabe denunciar e publicamente demonstrar que não pactuo com tal forma de administrar o hospital, mesmo diante de dificuldades atribuíveis à política nacional de saúde.

                   Mas seriam só críticas? Não. 

               A par da esperança que sempre manifesteiinterina e publicamente, vai o dever de indicar solução ampla e definitiva: o que Barretos e região merecem é a assumpção do hospital por governo sério (no caso o Estadual). Isso viria a ser a forma de solução definitiva para uma questão social, que é básica e essencial, para tranquilizar uma população de 500.000 habitantes.
         Nas mãos do prefeito Guilherme a decisão: buscar junto ao Governador Geraldo uma solução realmente digna da história da entidade e da posição política de Barretos, que sempre votou, acima da média regional, nos candidatos do PSDB. Mormente, no atual nosso Governador Geraldo Alkmin.
  A atividade hospital-escola pode e deve ser mantida, entretanto, sem que seja mais importante que a função assistencial, ora submetida aos desígnios do interesse particular. O que se quer é: assistência hospitalar de alto nível, colocada em primeiro plano, servindo de escola como medida acessória, devendo ser também de alto nível.
 ​Uma coisa é ser astuto, esperto e eficiente na busca de doações, que tem a força da Grande Causa de tratamento de câncer para a população pobre. Louvável. A outra é administrar um hospital policlínico cuja complexidade exige formação técnica administrativa específica e altamente especializada.
 ​Não pode imperar um sistema terrorista de gerenciar uma atividade em que é primordial a tranquilidade de todos para obter resultados de cuidar de doentes e promover saúde.
​ O que não se aceita é substituir a condição de experiência e de especialidades de um Corpo Clínico, por serviços e servidores em fase de formação e formatação, meramente para economizar custos, em que está evidente a perda de qualidade no atendimento.
​ Fica aqui o alerta de quem é barretense nato, “vive” o assunto e não costuma assistir, calado, buscando exercer o papel de direção e/ou de mera cidadania.

                           Isso é o que está acontecendo.
     ​Contra isso é que nos posicionamos. 
       Como muita gente também o faz.


Dr. Fauze José Daher

Diretor Clínico da Santa Casa de Barretos
Mestre em Ciências - Esc. Paulista de Medicina (Univ. Fed. de São Paulo UNIFESP)
Advogado

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Saúde: o monopólio, seus vícios e consequências

                      O monopólio tem seu conceito mais visível na área econômica na qual determinada atividade comercial ou de prestação  de serviços ficam em mãos de donos ou gestores com poder absoluto de domínio da relação de oferta e consumo.
                  Antes de ser uma condição virtuosa, quase sempre é prejudicial a quem consome ou é atendido na prestação. Tanto assim é que governos modernos e civilizados estabelecem organismos controladores das atividades no que se refere ao monopólio. Não poucos os exemplos de carteis e trustes, tentados serem criados no Brasil, que foram objetos de ações controladoras, vez ou outra divulgados na mídia nacional.
                  A preocupação maior relacionada ao monopólio, é que a concorrência fica inibida, embotada e impossibilitada de gerar melhor qualidade de produtos ou serviços; privando o cast de indivíduos, envolvidos na cadeia produtiva, de conquistar melhor condição geral de trabalho. E lógico, estando nas mãos de um só, fica-se sem saída diante de qualquer postura de exploração pelo mesmo.
                  Na saúde é uma preocupação que não pode ficar desprezada, porque há interesses econômicos, trabalhistas, de prestação funcional e de consumo claramente envolvidos. Em grandes centros não tem relevância, porque existem sempre muitos grupos concorrentes.
                  Entretanto, em Barretos passa a ser uma questão a ser enfocada, diante de uma tendência que já se desenha pela argúcia de pretensões que nos rondam. O atendimento ao paciente, público, conveniado ou privado corre hoje o risco de ser abraçado por uma vertente monopolizadora.
                  Não foi problema quando existiam quatro hospitais: Santa Casa, Santa Inês, São Jorge, São Judas e H. Câncer. Os dois últimos, na verdade, um só grupo. Hoje tende para se ter apenas dois: São Jorge e, o outro, da Fundação Pio XII.
                  A preocupação cresce no instante em que pretende o tal grupo majoritário, também assumir ou “abocanhar” 5 (senão todos) os postinhos de atendimento ora oferecidos pela administração municipal. Esse passo torna-se ruim, porque à conta de incapacidade de gerir tal função, que é essencial de Estado, insinua-se a privatizá-la. E o que é pior: “debruçando” nos anseios do monopólio, conceitualmente visto como vicioso e prejudicial, antes que virtuoso e produtivo.
                  Essa intenção já foi claramente declarada por pretendente, que até se esqueceu de que o processo depende de chamamento público (leia-se processo licitatório), postando-se já como detentor de algo que considera benéfico. Sim, é benéfico para quem usa do monopólio, porém, com todos os prejuízos de toda uma cadeia de interessados e servidos.
                  Precisa-se estar de olhos abertos. O mundo passa por um processo de concorrência salutar e produtiva. No Brasil chegam grupos internacionais de prestadores de serviços de saúde com altíssimos investimentos.
Campinas e Ribeirão Preto estão tendo hospitais “paquerados” por diversos grupos internacionais, abastados, disputando áreas promissoras de aprimoramento de um serviço que é sofrível no Brasil: o atendimento de saúde.
E Barretos é um filão com região de 500.000 vidas que podem interessar, seguramente, a pretendentes capacitados, de alto nível e em regime de concorrência, sem monopolizar.
Uma questão importantíssima, é que interessa a esses empreendedores de serviços médicos e hospitalares, o “fornecimento” de espaços para o ensino, funcionando com hospitais-escolas. Já há grupo oferecendo seu hospital como local de ensino para 5 faculdades de medicina, dada a dimensão do atendimento.
Isso fica mais evidente e torna-se mais atraente, ao se constatar que o volume de faculdades criadas, sem hospital escola, é enorme e preocupante porque uma coisa não existe sem a outra: isto é, toda faculdade tem que ter hospital escola, como exigência indisponível do Ministério da Educação e Cultura (MEC).
É fundamental para enfermeiros, atendentes, médicos, e funções paramédicas, terem diversidade de empregadores ou contratantes, livre de estarem expostos aos problemas e inconveniências do monopólio.
É fundamental para a população atendida, ganhar qualidade que só a concorrência pode proporcionar. Que só o profissional livre de pressões de emprego, pode com tranquilidade oferecer.
Em suma, precisam estar atentos: a população, médicos, paramédicos governantes (Prefeitura e Câmara Municipal) para os fatos que estão por aí rolando, fugindo de algo que pode ser uma armadilha nociva ao interesse da grande população.
Que prevaleça o que é racional, moderno, justo, economicamente distributivo e democrático.
O amor sempre cabe, lógico. Desde que com inteligência e sinceridade que, só assim, pode fazer o bem.          
Mormente, o bem coletivo.

Dr. Fauze José Daher

Diretor Clínico da Santa Casa de Barretos
Gastrocirurgião vídeo/endo/laparoscopista
Proctologista / Médico do Trabalho
Advogado

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A Santa Casa, o clima de estresse e a síndrome de burnout

         O mundo moderno e a nova civilização sofrem de um processo que preocupa os departamentos de recursos humanos dos ambientes de trabalho. Trata-se de uma condição que afeta o trabalhador, em todos os níveis de funções, caracterizados por laborarem em condições de estresse, que provoca agitação, insegurança, temor, podendo chegar à depressão.
            Isso tem sido relatado em comunicações sociológicas, médicas e psicológicas como uma condição de relativa incidência e carente de ser vigiada por gestores do trabalho, a todo instante.
            O indivíduo ou a cidadã sai do período de trabalho com extremo cansaço, desproporcional ao que, naturalmente ou em condições normais, teriam, caso labutassem com a tranquilidade devida. Ou, então, sentem terrível pressão e sofrimento nas horas ou minutos que antecedem à ida para ingressarem no ambiente do trabalho.
            Pois bem. Das carreiras que mais estão sujeitas a essas condições, são aquelas relacionadas com atendimento a doenças, mormente, hospitais ou clínicas. No foco da questão, podendo dela padecer, estão médico(a)s, enfermeiro(a)s e atendentes ou auxiliares de enfermagem.
            Sofrem mais, aqueles com menor tempo de experiência, exatamente porque a responsabilidade no momento de decidir questões muitas vezes graves, trazem um conflito ou angústia certamente maiores do que em outras atividades. Lógico, porque envolve lidarem com vidas humanas ou riscos de morte.
            E daí? O que isso tem a ver com a Santa Casa?
Tem muito a ver com o momento atual, sim. O fato é que, nos últimos dias, quem frequenta o hospital no dia a dia ou eventualmente, percebe o altíssimo grau de estresse, preocupação, insegurança, tristeza pelos quais estão passando os “colaboradores” que ali trabalham.
            Tais profissões, naturalmente, lhes conferem ações e atitudes que mesclam responsabilidade, atenção especial, dedicação e zelo chegando a uma postura de verdadeiro devotamento. Só que, diferentemente de como tradicionalmente ocorria, estão hoje evidentes os sinais de sofrimento, provocados pelas causas dessa chamada síndrome de burnout.
            Uma das razões atuais, não tenho dúvidas de que ameaças colocadas de forma insidiosa, de rompimento de contratos, deixam a todos inseguros quanto à garantia de seus trabalhos e empregos, que abalam, de frente, a estabilidade que precisam ter serviçais de todos os níveis: de serviço geral, de segurança, da hotelaria, da enfermagem, fisioterapeutas e, por que não, dos profissionais da área médica.
            O que precisa ser dito e sabido: o enxugamento de pessoal da linha de frente (os que realmente “põem a mão na massa”) já até passou do limite que garante um atendimento mínimo e necessário. Pressionar dispensa de pessoal para conseguir busca de soluções pode até ser usado em outras atividades. Por exemplo, metalúrgicos e indústria de automóveis. Porém, jamais numa atividade em que o servido (paciente, no caso), não deve estar fazendo leitura de angústia, tristeza e insegurança daquele que o está servindo.
Esse complexo de coisas traz tremenda perda de qualidade assistencial. Jamais podendo ser rotulada como “medicina honesta ou de qualidade”, a todo momento discursada e contrastando com a verdade.
Recentemente foi preciso intervir para neutralizar uma evidente tensão na cidade por conta de um obtuso fechamento de portas do pronto socorro. Agora já corrigido e promovendo um alívio comunitário.
O que agora seria preciso é buscar soluções, sem atitudes que, se não aterrorizam, provocam um temor que não casa com uma forma inteligente, humana e calorosa de resolver problemas. Pelo menos num grande hospital.
Vale também esclarecer que muitas dessas medidas, para não dizer todas, são tomadas sem a participação dessa Diretoria. Diferentemente do que acontece no mundo inteiro, como pude presenciar em recente visita ao Memorial Hospital de Nova Iorque. Ali, mais do que nunca, a opinião técnica é essencial e indisponível.
Síndrome descrita pelo nova-iorquino Freundenberger, burnout traduzido do inglês significa esgotamento; literalmente vem de burn (queimar, queimadura, queimação) out (para fora). Ou seja, uma “fogueira” que mereceria o frescor de uma ducha, antes, que lenha a alimentá-la.
É como penso, e devo alertar, na função de Diretor Clínico, cobrando soluções, resguardando qualidade no ambiente de trabalho, segurança no atendimento do cidadão assistido, sempre disposto a opinar quando preciso.

Dr. Fauze José Daher

Diretor Clínico da Santa Casa de Barretos
Gastrocirurgião/Videolaparo/Endoscopista/Proctologista
Medicina do Trabalho
Advogado