sexta-feira, 1 de maio de 2020

O dia de dor da Doutora Nathalia e os 2,5 milênios de missão sagrada

            Emocionou médicos, paramédicos leitores da mídia internáutica o depoimento da jovem médica Dra. Nathalia.
Ela expos ao mundo, com muita sensibilidade, uma mistura de dor humana e profissional diante dos desfechos, naquele dia, provocada pela terrível pandemia que ora vivemos, num balanço triste ao final do dia de trabalho. 
            É verdade incontestável que milhares (se não milhões) de médicos e médicas que habitam o nosso planeta e cumprem uma missão que carrega, em si, o verdadeiro Amor pregado por Paulo Apóstolo e Santa Sofia de Roma, cuja Basílica é uma eterna atração em Istambul na Turquia. 
Interessante, é ícone cristão criado na idade média, período Bizantino, mas que perdura num meio Islâmico, sempre respeitador de todas as demais religiões, tendo sido transformada em Mesquita, no império Otomano e, hoje, num Museu carismático a todos.
        O relato da Dra. Nathalia certamente é a reedição de centenas de milhares de médicos jovens que, ainda em início de suas caminhadas, estão expostos ao drama de terem de praticar, no Brasil, vez ou outra, a dolorosa “Escolha de Sofia”.
 É o retrato fiel da crueldade de um mundo com tanta riqueza contrastado pela irresponsabilidade de governantes que deixaram de prezar o direito sagrado de zelar a saúde, ou cuidar da (doença), no mínimo patamar possível. Seja aqui em nosso Brasil, seja em países ricos da velha Europa: morrer por asfixia decorrente de uma (des)estrutura é cruel e inconcebível.
Ao tocar a sensibilidade de milhares, pelo seu depoimento, Dra. Nathalia faz evocar a visão de gerações mais velhas de médicos(as) diante de sua estória de um determinado dia. 
O que nos compensa, é a sensação divina de conseguir resgatar o bem em diversas situações: seja nas emergências cardiovasculares, neurológicas, ortopédicas psiquiátricas, no momento de um parto feliz, no sucesso de uma reanimação/ressuscitação ou na solução de uma dor abominal aguda. 
São delicados os momentos de uma anestesia geral, levar uma pessoa aos limites seguros do sono profundo e indolor trazendo-a “resolvida” pela ação simultânea de procedimentos das mais variadas naturezas e técnicas.
Tudo isso faz parte da nossa vida em Medicina, vista de uma longa estrada percorrida pelos formados há 50 anos, 47 (como no meu) ou há 30, 20 como de muitos.  A Dra. vai viver essa mesma estrada, Deus queira, podendo chegar com um balanço feliz pelos resultados conseguidos: sempre guiados pela Força Maior, que sempre atende às nossas invocações.
O tributo disso não é pequeno. Se uma regra pede para não levarmos problemas profissionais para casa, por mais que cuidemos, nossos semblantes não os conseguem esconder aos nossos amados entes. A missão nunca é de impacto isolado: os nossos sofrem conosco... 
Nossa longevidade como médicos(as), cientificamente já demonstrada, é de 5 anos mais curta que a de todas as outras profissões. E nossos cabelos, grisalham mais rapidamente, com toda certeza.
Mas, a parte boa tem acontecido...O mundo todo, desde o início dessa pandemia, mesmo diante de um volume percentual reduzido de vítimas fatais, tem homenageado os agentes de saúde, que estão fincados numa trincheira perigosa com suas vidas totalmente expostas.
Médicos do Brasil, particularmente, vivem momento severo de exploração profissional por empresas, empreendedores hospitalares, de planos de saúde, de fundações privadas, cada vez mais pejorando condições de trabalho, níveis de remuneração, frieza no relacionamento interpessoal, como nunca vistos antes. 
Vale cumprimentar os jovens colegas pelos seus trabalhos nessa luta, que envolve a todos, seja presente à beira do leito, à distância ou nas bancadas de pesquisa. Sejam os mais maduros ou Seniores, saiba que ficamos, no costumeiro silencio e discrição, irmanados na fé de que tudo passará, sabendo que o futuro sempre estará nos reservando novas batalhas. 
De concreto e definitivo, é a fé em que V. possa, com saúde, e o humanismo demonstrado ao cumprir essa nobre missão. Se Hipócrates definiu diretrizes em 406 a.C, dois milênios e meio ainda as conservam, com a modernidade oferecendo os avanços científicos, que não são poucos.
Força colega Nathalia. 
Venceremos, com a Ciência e a Graça de Deus.

(TCBC) Fauze José Daher  -  CRM 20.810
Gastro Cirurgião da Santa Casa de Barretos