segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A Santa Casa, o clima de estresse e a síndrome de burnout

         O mundo moderno e a nova civilização sofrem de um processo que preocupa os departamentos de recursos humanos dos ambientes de trabalho. Trata-se de uma condição que afeta o trabalhador, em todos os níveis de funções, caracterizados por laborarem em condições de estresse, que provoca agitação, insegurança, temor, podendo chegar à depressão.
            Isso tem sido relatado em comunicações sociológicas, médicas e psicológicas como uma condição de relativa incidência e carente de ser vigiada por gestores do trabalho, a todo instante.
            O indivíduo ou a cidadã sai do período de trabalho com extremo cansaço, desproporcional ao que, naturalmente ou em condições normais, teriam, caso labutassem com a tranquilidade devida. Ou, então, sentem terrível pressão e sofrimento nas horas ou minutos que antecedem à ida para ingressarem no ambiente do trabalho.
            Pois bem. Das carreiras que mais estão sujeitas a essas condições, são aquelas relacionadas com atendimento a doenças, mormente, hospitais ou clínicas. No foco da questão, podendo dela padecer, estão médico(a)s, enfermeiro(a)s e atendentes ou auxiliares de enfermagem.
            Sofrem mais, aqueles com menor tempo de experiência, exatamente porque a responsabilidade no momento de decidir questões muitas vezes graves, trazem um conflito ou angústia certamente maiores do que em outras atividades. Lógico, porque envolve lidarem com vidas humanas ou riscos de morte.
            E daí? O que isso tem a ver com a Santa Casa?
Tem muito a ver com o momento atual, sim. O fato é que, nos últimos dias, quem frequenta o hospital no dia a dia ou eventualmente, percebe o altíssimo grau de estresse, preocupação, insegurança, tristeza pelos quais estão passando os “colaboradores” que ali trabalham.
            Tais profissões, naturalmente, lhes conferem ações e atitudes que mesclam responsabilidade, atenção especial, dedicação e zelo chegando a uma postura de verdadeiro devotamento. Só que, diferentemente de como tradicionalmente ocorria, estão hoje evidentes os sinais de sofrimento, provocados pelas causas dessa chamada síndrome de burnout.
            Uma das razões atuais, não tenho dúvidas de que ameaças colocadas de forma insidiosa, de rompimento de contratos, deixam a todos inseguros quanto à garantia de seus trabalhos e empregos, que abalam, de frente, a estabilidade que precisam ter serviçais de todos os níveis: de serviço geral, de segurança, da hotelaria, da enfermagem, fisioterapeutas e, por que não, dos profissionais da área médica.
            O que precisa ser dito e sabido: o enxugamento de pessoal da linha de frente (os que realmente “põem a mão na massa”) já até passou do limite que garante um atendimento mínimo e necessário. Pressionar dispensa de pessoal para conseguir busca de soluções pode até ser usado em outras atividades. Por exemplo, metalúrgicos e indústria de automóveis. Porém, jamais numa atividade em que o servido (paciente, no caso), não deve estar fazendo leitura de angústia, tristeza e insegurança daquele que o está servindo.
Esse complexo de coisas traz tremenda perda de qualidade assistencial. Jamais podendo ser rotulada como “medicina honesta ou de qualidade”, a todo momento discursada e contrastando com a verdade.
Recentemente foi preciso intervir para neutralizar uma evidente tensão na cidade por conta de um obtuso fechamento de portas do pronto socorro. Agora já corrigido e promovendo um alívio comunitário.
O que agora seria preciso é buscar soluções, sem atitudes que, se não aterrorizam, provocam um temor que não casa com uma forma inteligente, humana e calorosa de resolver problemas. Pelo menos num grande hospital.
Vale também esclarecer que muitas dessas medidas, para não dizer todas, são tomadas sem a participação dessa Diretoria. Diferentemente do que acontece no mundo inteiro, como pude presenciar em recente visita ao Memorial Hospital de Nova Iorque. Ali, mais do que nunca, a opinião técnica é essencial e indisponível.
Síndrome descrita pelo nova-iorquino Freundenberger, burnout traduzido do inglês significa esgotamento; literalmente vem de burn (queimar, queimadura, queimação) out (para fora). Ou seja, uma “fogueira” que mereceria o frescor de uma ducha, antes, que lenha a alimentá-la.
É como penso, e devo alertar, na função de Diretor Clínico, cobrando soluções, resguardando qualidade no ambiente de trabalho, segurança no atendimento do cidadão assistido, sempre disposto a opinar quando preciso.

Dr. Fauze José Daher

Diretor Clínico da Santa Casa de Barretos
Gastrocirurgião/Videolaparo/Endoscopista/Proctologista
Medicina do Trabalho
Advogado