domingo, 18 de outubro de 2015

O Dia do Médico, a medicina e o médico

            O profissional médico tradicionalmente se portou e tem se portado de forma discreta nas suas atividades, o que é uma das características marcantes da classe. Até mesmo na data comemorativa do seu dia posta-se meramente a receber cumprimentos de seus clientes e amigos sem buscar qualquer tipo de efusão comemorativa, além de um tradicional jantar na Casa do Médico.
 Poucas têm sido as empresas prestantes de serviços de apoio, hospitais e laboratórios farmacêuticos que buscam colocar seus anúncios homenageando os profissionais que carregam essa missão milenar e primordialmente configurada por Hipócrates na melhor forma de seu exercício.
Infelizmente o mundo moderno e os últimos tempos em nosso Brasil, tem nos feito assistir sérias mudanças que certamente se refletem no comportamento dos colegas da era atual.
São reflexões das mais profundas e abrangentes que passam pelo absurdo aumento de escolas médicas sem a devida estruturação para tal, cujo resultado é conhecido por exames probatórios realizados pelos próprios Conselhos de Medicina: não muito animadores quanto ao nível de ensino/aprendizado.
O grau de comprometimento profissional, comparado no passado a uma missão sacerdotal, seguramente não é o mesmo assim como não é o desprendimento voltado para a ação desinteressada.
Todos que admiram nossa classe com manifestados carinhos e respeito, merecem saber que temos consciência de que não podemos aceitar perfis comportamentais impróprios, se comparados com tempos que não passam de meio século.
Merecem saber que a grande parte dos colegas da nobre profissão, não aceita a postura muitas vezes gananciosas que chegam a burlar a confiança depositada pelo  paciente, entregando sua dor ou seu problema de saúde sem saber que as escolas médicas muitas vezes são avaliadas insuficientes. 
Dizia o  Prêmio Nobel da Medicina de 1.947, Bernardo Houssay, pesquisador argentino, que já nessa época manifestava real preocupação. Dizia Houssay: “o médico é mais perigoso que uma fera, porque dela as pessoas fogem sabendo do perigo; e ao médico as pessoas se entregam na mais absoluta confiança, sem saber que as escolas não conseguem separar o bom do mau profissional”.
Sabemos que o altíssimo custo de formação do médico, pelas escolas privadas (a grande maioria das existentes hoje), naturalmente compelem o recém ingresso no mercado a buscar o retorno do “investimento” na formação, fazendo precipitar abusos na busca das vantagens que a profissão permite fazer retornar. E o faz em curto espaço de tempo. Só não pode ou não deveria levar a posturas de ganância inaceitáveis nem posturas típicas de desvios profissionais.
Felizmente, com toda a carência de investimento na qualidade dos serviços públicos de saúde, a mídia nacional raramente imputa colegas médicos, a não ser a insuficiência de quantidade dos mesmos a serem disponibilizados pelos governantes.
Tivemos a honra de vivenciar uma Associação Paulista de Medicina ser presidida por Aly Alahmar, Faleiros de Almeida, Matinas Suzuki, Hélio Garcia da Costa, Paulo Monteiro de Barros, Luster Silveira com os quais pode-se aprender verdadeira luta de classe. Contrastando com os tempos atuais em que assumir a entidade significa abraçar uma missão desprezada pela grande maioria, pela falta de respaldo dado ao sistema de saúde a garantir uma  saúde pública decente.
Mas, tirante essa clara realidade, os colegas sentem-se felizes em poderem ser lembrados e cumprimentados, como que a receber o reconhecimento de suas lutas e árduo trabalho, muitas vezes contestados. É hoje típico de uma parte das pessoas ligadas aos pacientes, a ousadia de questionar conduta médica com base em informações colhidas no Google ou outra fonte de internet.
Antigamente respeitava-se a palavra do médico como definitiva no manejo de seus casos, com o mais profundo respeito e compreensão. Nos tempos atuais chega-se a observar momentos de desrespeito e ingratidão.
Enfim, os tempos têm seus sinais. Apesar dessa realidade, é dever de ofício manifestarmos nossa gratidão pela lembrança da digna profissão, cada dia mais incrementada com avanços em todas as especialidades, sempre buscando a cura, o alívio da dor, a prevenção da doença e o bem estar completo dos nossos semelhantes.
Que juntos possamos comemorar a data com alegria e ânimo para desafiar novas etapas.

Dr. Fauze José Daher

Gastro cirurgião e videolaparoscopista da Santa Casa de Barretos
Ex Presidente da Assoc. Paulista de Medicina – Reg. de Barretos
Advogado – OAB (SP)